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Lemos: Fun Home – Uma Tragicomédia em família

Eleito o Livro do Ano pela revista Time e premiado com o Eisner Awards de Melhor Não-FicçãoFun Home – Uma Tragicomédia em família chega ao Brasil para confirmar o incrível talento da artista Alison Bechdel.

Trocadilho

O nome faz um trocadilho entre a palavra fun (divertida) e funeral (no caso, funerária) e é o apelido que Alison e seus irmãos deram à própria casa, onde funcionava a funerária de sua família. O livro narra a vida da artista e sua relação com seu pai, Bruce Bechdel.

Alison, uma quadrinista lésbica, explica a importância de seu pai, um gay enrustido, na formação de sua personalidade. A história aborda também temas polêmicos dos Bechdel, como o excesso de zelo de Bruce pela casa e objetos e a forma controvertida como morreu.
A palavra “tragicomédia” no título indica o mérito da roteirista Alison em tornar uma história dramática tão sarcástica. Sem soar cética ou insensível. Poucos desenhistas têm talento para contar uma história desta forma.

A fina dose de ironia é mais notável que os traços precisos e simples da quadrinista. Inclusive, a artista opta por desenhos simples que dão espaço para que as referências literárias e históricas ganhem mais importância no enredo. Afinal, as imagens parecem servir mais às palavras do que normalmente ocorre em uma história em quadrinhos.

Ainda que algumas vezes, esse tom verborrágico torna-se cansativo, na maior parte torna apenas mais tragicômico. Alguns podem dizer que esse uso pelas palavras indiquem um trabalho mais próximo da literatura do que da arte seqüencial. Mas há momentos em que Alison demonstra um grande domínio da nona arte. Repare  na recepção do enterro de Bruce e a primeira conversa sobre homossexualidade.

Talvez o maior problema do uso das referências é afastar o leitor da própria história ou soar pedante. Felizmente, Alison dá propósito a cada uma dessas citações que passam por Hemingway, Sartre, Wilde e mitologia grega (com uma sensível e bela alusão à história de Dédalo e Ícaro).

Érico Assis, do Omelete, chegou a comentar sabiamente que Fun Home “sedimentou a idéia de que HQs podem ser arte, unindo os dois mundos. É possível que lance todo um mercado para ótimos quadrinhos destinados a um público não tradicional. E, se publicada no Brasil, é capaz de ter o mesmo efeito”. Mais de dez anos depois de sua publicação, a impressão parece ter se realizado.

A importância de um lançamento desses no Brasil é tal qual O Espinafre de Yukiko. Se você costuma só ler comics, interrompa  e invista seu dinheiro em Fun Home. É daqueles trabalhos que faz você ficar feliz de ler quadrinhos. Feliz mesmo.

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Nota: 10

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