‘Fora de Mim’ é uma aula sobre inclusão

Um filme que deveria ser obrigatório

No que se diz respeito sobre inclusão, as mídias ainda deixam bastante a desejar. Porém, em 22 de novembro estreou no Disney+ o filme original Fora de Mim (Out of my Mind), que traz a primeira protagonista com paralisia cerebral do estúdio. Além de ser um ótimo exemplo de inclusão, traz boas críticas sociais.

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Inspirado no livro homônimo de Sharon M. Draper, o longa conta a história de Melody (Phoebe-Rae Taylor). Uma menina de 12 anos com paralisia cerebral, que por estar numa cadeira de rodas e ser não-verbal tem sua inteligência subestimada. Ela precisa lutar para ser ouvida e incluída, mas ela tem aliados.

Algo realmente gratificante de ver em Fora de Mim é a protagonista ser interpretada por uma atriz que realmente tem a deficiência em pauta. Não se trata apenas de inclusão, mas de veracidade. E em seu primeiro trabalho Phoebe-Rae traz um show de expressividade, principalmente nos momentos em que a personagem se sente sozinha. E para imprimir a voz-interior de Melody na narração do filme a atriz Jennifer Aniston emprestou sua voz, o que foi uma boa jogada pela história se passar em 2002 e a personagem ser fã de Friends.

Boa parte da trama mostra Melody tentando ser incluída em uma turma regular do colégio onde sempre estudou, só que em uma turma especial. É interessante como é mostrada a segregação na educação, como muitos educadores reclamam de não estarem preparados para “esse tipo de aluno” mas também não se preocupam em saber o que podem fazer a respeito. Basta lembrar que há não muito tempo tivemos um Ministro da Educação dizendo que “a inclusão de alunos com necessidades especiais ‘atrapalham’ o aprendizado de outras crianças sem a mesma condição”.

Por outro lado, existem muitos profissionais de educação engajados em fazerem valer as leis de inclusão e serem a voz de quem não tem. Em Fora de Mim isso é personificado na Dra. Katherine Ray (Courtney Taylor), que traz o projeto que pretende incluir Melody e outro menino da turma especial na 6ª série regular. A Dra Katherine acaba se tornando aliada e amiga de Melody.

Além disso, até os pais discordam inicialmente se Melody deve ou não tentar a turma regular. Enquanto o pai Chuck (Luke Kirby) quer que a filha exerça todo seu potencial, a mãe Diane (Rosemarie DeWitt) só quer mantê-la em um ambiente seguro de bullying. Ambos tem seus pontos, mas nenhum pergunta o que Melody quer. Algo bem real.

Daria para escrever muito mais sobre os aspectos verossímeis de Fora de Mim, como a irritante forma com que adultos tratam crianças com deficiência e como crianças sem deficiência, quando não vivem na inclusão, passam a perpetuar o preconceito desde cedo. Mas além de ficar muito extenso possivelmente tiraria parte do impacto de assistir. Claro que por ser um filme de apenas 1h40 as atitudes de alguns personagens acabam não sendo aprofundadas, mas o contexto deixa implícito.

É preciso dizer que Sharon M. Draper, autora do livro, não tem paralisia cerebral. Mas além de escritora ela é educadora, e não encontrei informações sobre ela ter tido algum aluno ou aluna específicos que a inspiraram a escrever Fora de Mim (VR Editora). Mas é possível que a segregação educacional a tenha incomodado e deixado-a querendo fazer algo a respeito. O livro possui duas sequências, Out of my Heart e Out of my Dreams, não publicados no Brasil. Está na hora de mudar isso né?

O filme Fora de Mim tem roteiro de Daniel Stiepleman e direção de Amber Sealey, com um excelente time de consultoria. Um filme para ver, refletir e compartilhar.

Nota: 9

Confira o trailer:

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