Imagem da animação Flow, que mostra o gato preto e, ao fundo, a baleia da animação

‘Flow’: entenda o final do filme que ganhou o Oscar de Melhor Animação

Final explicado: você viu a cena pós-créditos? Entenda seu significado

Flow, a animação dirigida e roteirizada por Gints Zilbalodis, é daqueles filmes que, dias após ter sido visto pela primeira vez, permanecem dentro da gente inspirando pensamentos e reflexões. Não à toa, e muito merecidamente, superou produções de estúdios hollywoodianos, como Pixar e Dreamworks, ao ganhar tanto o Oscar quanto o Globo de Ouro de melhor longa animado.

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Em Flow, acompanhamos os desafios enfrentados por um gato em um mundo no qual os seres humanos desapareceram, deixando apenas os vestígios de uma civilização pós-apocalíptica. O planeta Terra parece ter sido assolado por um cataclisma climático, causando a subida do nível do mar. Seu protagonista é um gato doméstico que vive em uma casa ampla e vazia, como se seus donos tivessem subitamente desaparecido.

Na cena inicial, o gato vê seu reflexo em uma poça d’água no chão. Porém, logo começa a tremular. Animais como uma matilha de cães, um coelho e uma manada de veados correm em sua direção, fugindo de alguma coisa que logo percebemos que se trata de um tsunami avassalador que inunda tudo ao redor. Ele é obrigado a abandonar o conforto de seu lar e fugir para lugares cada vez mais altos, até que se vê cercado pelo mar que engolfa tudo. Após ter resistido o máximo possível solitariamente, não lhe resta outra alternativa que não seja pular para dentro de um barco que se aproxima, antes que se afogue. Nele, está uma capivara. Será um dos seus companheiros de jornada pela sobrevivência, aos quais se juntarão depois um lêmure, um golden retriever e um pássaro-secretário.

Ok. A partir dos próximos parágrafos, vamos mergulhar em uma…

ZONA DE SPOILER

Um dos momentos mais bonitos de Flow é a cena em que o pássaro-secretário (que alguns acham que é uma garça) morre (ou renasce). Suas asas, que estavam quebradas, voltam a bater com todo o vigor; ele voa, cada vez mais alto, na direção de um além iluminado. O gato, que testemunha de perto a partida do pássaro, flutua oniricamente em meio ao que parece ser uma aurora boreal. A trilha sonora, composta pelo faz-tudo Gints Zilbalodis junto com Rihards Zalupe, emoldura a magia desta cena.

Por que cito esta cena para explicar o final? Porque me parece ser o que aconteceu também com a baleia, naquele que aparenta ser o último encontro entre a criatura dos mares e o gato. Ela, que está encalhada em terra após o refluxo das águas, está dando seus últimos respiros. O gato reconhece naquela baleia a mesma criatura aparentemente monstruosa e assustadora, mas que o salvou duas vezes ao longo de sua jornada. E interrompe a fuga de uma nova enchente para ficar ao seu lado. E acompanhá-la, solidariamente, até o último suspiro.

Após deixarmos de ouvir o barulho da respiração da baleia, seus três companheiros de jornada – a capivara, o cachorro e o lêmure – encontram o gato. Como em um círculo que se fecha, o filme termina ecoando sua cena inicial. No começo de Flow o gato olhava amedrontado para a poça d’água, que tremia como uma metáfora do medo de não conseguir sobreviver à inundação. Mas, desta vez, o gato não está mais só; ao seu lado, estão os amigos que fez ao longo desta trajetória. Os quatro finalizam o filme unidos, lado a lado, mirando o espelho d’água; desta vez, o gato está muito mais sereno, porque sabe que está bem acompanhado. E a água da poça, que estava ondulando, também acaba se aquietando.

CENA PÓS-CRÉDITOS

Eu sei que tem gente que levantou da poltrona do cinema e perdeu a sequência que aparece após os créditos finais. Ei-la, pois, para quem não a assistiu:

Há muitas teorias que circulam por aí, falando em parábolas com a Bíblia, o budismo, as cinco etapas do luto, etc etc. Se eu partir dessas premissas, este post será interminável (mas, por favor, fique à vontade para explicar suas teorias no espaço de comentários desta postagem). Vou me ater, pois, a apenas analisar a cena pós-créditos e elencar três possíveis explicações para o que aconteceu no final. Vamos a elas:

FINAL ESPERANÇOSO

Flow (que significa “fluxo” em inglês) é um filme que fala de união, esperança e aprendizado. O gato, que era um ser arredio e introvertido, aprende a trabalhar em equipe com seus companheiros de jornada. E o final, em que os quatro se reencontram e se vêem na poça d’água com olhares serenos, mostra que, juntos, eles serão capazes de sobreviver aos maiores desafios.

A baleia morreu. Nós ouvimos sua respiração cessar. Mas, na cena pós-créditos, vemos uma outra da sua espécie nadando em um mar idílico, mostrando que o fluxo da vida prossegue e a espécie não se extinguiu. O ciclo continua.

FINAL ULTRARREALISTA

A cena após os créditos finais mostra que a nova inundação, que obrigou aquele bando de cervos a correr novamente em busca da sobrevivência, cobriu todo o planeta. Não há nada mais além do mar. A baleia, que estava agonizando, sobreviveu inesperadamente e protagoniza essa cena final. Infelizmente, todos os animais não-aquáticos não tiveram como sobreviver (vamos lembrar que o barco em que eles navegavam foi destruído ao cair do abismo) e morreram afogados. Bora fazer terapia?

FINAL ESPIRITUAL

Assim como na sequência onírica em que o pássaro-secretário voa em direção ao além, a cena pós-créditos também mostra o que ocorre quando um ser como a baleia, que ao longo de sua vida ajudou fraternalmente outros animais, deixa este plano terrestre. Todas as feridas se curam. Ao final, testemunhamos a baleia nadando em outra dimensão, na qual o céu é esplendoroso e as águas são calmas.

OK, MAS…

… você pode me perguntar: mas, Inagaki, qual desses três finais é o mais correto? E a resposta, Pequeno Gafanhoto, é simples: todos eles fazem algum sentido e representam possíveis interpretações. Uma obra de arte desperta questionamentos contínuos dentro da gente, não se esgota com uma resposta simples. E, aqui, tomo emprestadas as palavras do Mestre David Lynch:

Não sei por que as pessoas esperam que a arte faça sentido. Elas aceitam o fato de que a vida não faz sentido.”

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