Fernanda Torres no Oscar 2025 e suas chances após as indicações do SAG Awards

A má notícia: 4 das 5 indicações ao Oscar de Melhor Atriz estão praticamente definidas. A boa: Fernanda é a favorita para a quinta vaga.

Os cinéfilos brasileiros viveram dias de Copa do Mundo após a euforia causada pela vitória histórica de Fernanda Torres no Globo de Ouro, quando ela se tornou a primeira brasileira a vencer na categoria de Melhor Atriz em Filme de Drama. Neste dia 8 de janeiro, porém, sofremos um viés: o Sindicato dos Atores de Hollywood não incluiu Fernanda entre as cinco indicadas ao prêmio de Melhor Atriz no SAG Awards. A pergunta que não quer calar: e agora, como ficam as chances de Torres no Oscar 2025?

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Adianto a minha conclusão, que pode soar até surpreendente para alguns: as chances da protagonista de Ainda Estou Aqui ser indicada ao Oscar de algum modo até aumentaram. E vou elencar alguns motivos que corroboram o que digo.

Uma única vaga no Oscar para cinco concorrentes

Analisando as indicadas às principais premiações que antecedem o Oscar (Globo de Ouro, SAG, BAFTA e Critics Choice Awards), há quatro atrizes que constam em todas elas e que praticamente cravaram suas respectivas indicações ao Oscar 2025. São elas: Cynthia Erivo (Wicked), Demi Moore (A Substância), Karla Sofía Gascón (Emilia Pérez) e Mikey Madison (Anora). É muito, muito improvável que alguma destas quatro atuações seja ignorada pela Academia após terem sido reconhecidas por todo o circuito principal de prêmios pré-Oscar. Restaria, pois, uma última vaga em aberto. E posso dizer que, neste exato momento, Fernanda Torres tem algum favoritismo em comparação com suas principais concorrentes à quinta indicação, que são Angelina Jolie (Maria), Nicole Kidman (Babygirl), Marianne Jean-Baptiste (Hard Truths) e Pamela Anderson (The Last Showgirl).

Até algumas semanas atrás, Jolie era uma sólida candidata ao Oscar por sua atuação como Maria Callas na cinebiografia dirigida por Pablo Larraín. Porém, o filme não foi sucesso de crítica, ela perdeu o Globo de Ouro para Fernanda e sua performance foi esquecida tanto pelo SAG Awards quanto pela shortlist do BAFTA. A grande oportunidade de visibilidade que restaria a Angelina seria ganhar o Critics Choice. Mas, por causa dos incêndios que assolam Los Angeles, a cerimônia do Critics Choice Awards foi adiada para 26 de janeiro. Como os votos para as indicações ao Oscar vão até 17 de janeiro, a candidatura de Jolie permanecerá nesse viés de baixa. 

Nicole, que foi a Melhor Atriz por Babygirl no mesmo Festival de Veneza em que Ainda Estou Aqui ganhou o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado, é outro nome cuja candidatura perdeu força nas últimas semanas: não venceu o Globo de Ouro, tampouco está concorrendo aos prêmios do Critics Choice e SAG. Kidman ainda é uma das dez semifinalistas ao BAFTA de Melhor Atriz; porém, se seu nome não estiver entre as finalistas que serão anunciadas em 15 de janeiro, terá chances razoavelmente mais escassas de disputar o Troféu Imprensa do cinema mundial.

A britânica Marianne Jean-Baptiste, que em 1997 foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por Segredos e Mentiras, dirigido pelo cineasta inglês Mike Leigh, está novamente no páreo com Hard Truths, longa em que repete a parceria bem-sucedida com Leigh. Foi indicada ao Critics Choice e também está entre as semifinalistas do BAFTA, maior prêmio do cinema britânico. Uma possível vitória no Critics Choice seria um empurrão importantíssimo na sua candidatura, equivalente à premiação de Fernanda no Globo de Ouro, mas ela já não pode contar com essa ajuda. Para complicar, Hard Truths é uma obra que, apesar dos elogios da crítica, obteve pouca visibilidade midiática e tampouco pôde contar com os mesmos aportes de marketing de outros filmes distribuídos por gigantes como Netflix, Sony Pictures, Warner e Paramount.

Por fim, há a surpresa representada pela eterna estrela de Baywatch, Pamela Anderson. Que, em The Last Showgirl, provou ser muito mais do que aquela salva-vidas de maiô vermelho cavado correndo em câmera lenta. Após concorrer ao Globo de Ouro, ela foi a indicação surpreendente na categoria de Melhor Atriz dos SAG Awards. E, assim como Demi Moore, que aos 62 anos de idade ganhou pela primeira vez um prêmio significativo vencendo o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Comédia ou Musical por A Substância, Pamela enfim está obtendo o reconhecimento de seus colegas e críticos de cinema. Mas… Haverá espaço no Oscar para duas narrativas similares? Improvável.

Já descarto as chances de outras atuações femininas de destaque deste concorrido ano, como as de Tilda Swinton (O Quarto ao Lado), Saoirse Ronan (The Outrun), Kate Winslet (Lee) e Zendaya (Rivais), porque não ganharam outros prêmios de destaque e, principalmente, ficaram de fora do SAG Awards. Que, vale pontuar, é a mais significativa de todas estas premiações porque muitos dos eleitores do Sindicato de Atores de Hollywood também são membros da Academia.

Por que Fernanda Torres tem ótimas chances de indicação ao Oscar 

Apesar da ausência no SAG Awards, as chances da Vani de Os Normais e da Fátima de Tapas e Beijos disputar o Oscar permanecem sólidas. A ponto de eu, que acompanho as temporadas do Oscar há muitos anos, arriscar o palpite de que Fernanda é a favorita a conquistar a quinta vaga na categoria de Melhor Atriz. Principalmente por causa da excelência de sua atuação no papel de Eunice Paiva em Ainda Estou Aqui, mas também graças ao impulso positivo obtido com sua vitória surpreendente no Globo de Ouro.

Afinal, não é todo dia em que uma atuação em um filme falado em português consegue desbancar o favoritismo de estrelas hollywoodianas mundialmente reconhecidas como Nicole Kidman, Angelina Jolie e Kate Winslet. As buscas por “Fernanda Torres” no Google aumentaram 3.550% desde a sua vitória. E não duvido que muito votante americano da Academia, que ainda devia estar com preguiça de ver uma produção com legendas, teve sua curiosidade despertada e viu, enfim, o filme dirigido por Walter Salles.

Outro fator importante é a crescente internacionalização dos mais de 10 mil membros da Academia que votam no Oscar. Enquanto o Sindicato de Atores de Hollywood, por razões óbvias, é mais centrado nas produções norte-americanas, há milhares de votantes ao Oscar que residem mundo afora e são mais receptivos a filmes que não sejam falados em inglês.

Alguns bons exemplos recentes: Roma (longa mexicano de 2018 que ganhou três estatuetas e rendeu indicações de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante para, respectivamente, Yalitza Aparicio e Marina de Tavira), Parasita (produção sul-coreana que em 2020 que arrebatou os Oscars de Melhor Filme, Direção e Roteiro Original), Nada de Novo no Front (longa alemão de 2022 que ganhou quatro estatuetas, dentre elas as de Melhor Fotografia, Trilha Sonora e Direção de Arte) e Anatomia de uma Queda (filme francês de 2023 que venceu o Oscar de Melhor Roteiro Original e rendeu a Sandra Hüller a indicação a Melhor Atriz) provam que longas de outros idiomas além do inglês já conquistaram espaço significativo disputando outras categorias que não sejam a de Melhor Filme Internacional.

Vale lembrar também que Ainda Estou Aqui tem o suporte da Sony Pictures como distribuidora nos Estados Unidos, encampando uma eficiente campanha de divulgação do filme junto aos votantes da Academia e jornalistas americanos (emplacando matérias em veículos de peso como New York Times e Vanity Fair). E que Fernanda Torres, embora possa ser relativamente desconhecida em Los Angeles, tem uma carreira consistente no cinema e televisão, incluindo em seu currículo a Palma de Ouro de Melhor Atriz no Festival de Cannes de 1986, por sua atuação em Eu Sei Que Vou Te Amar, de Arnaldo Jabor.

Não dá pra esquecer, ainda, a narrativa de que ela é filha da única atriz brasileira até hoje indicada ao Oscar: a imortal da Academia Brasileira de Letras Fernanda Montenegro. Por sua atuação em Central do Brasil, que em 1999 perdeu a estatueta Gwyneth Paltrow (Shakespeare Apaixonado) em uma decisão até hoje contestada pelos mesmos brasileiros que agora batem recordes de engajamento nas redes sociais a cada postagem gringa que cite a atuação de Fernanda Torres em I’m Still Here.

Dedos cruzados, pois: os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood têm até o dia 17 de janeiro para votar em seus favoritos. No dia 23 de janeiro, saberemos enfim se Fernanda estará entre os finalistas à categoria de Melhor Atriz. Também deveremos ter a confirmação da mais do que provável indicação de Ainda Estou Aqui a Melhor Filme Internacional, cruzando os dedos para outra possível nomeação na categoria de Melhor Roteiro Adaptado (que, escrito por Murilo Hauser e Heitor Lorega a partir da autobiografia de Marcelo Rubens Paiva, já tem no currículo a premiação no Festival de Veneza). Depois, os resultados finais da 97ª edição do Oscar serão anunciados em 2 de março: coincidentemente, domingo de Carnaval. Sinais, fortes sinais de festa boa vindo aí?

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