Entendendo o final de ‘Hereditary’

Deu medo?

Hereditary (Hereditário), de Ari Aster, é perturbador e também um pouquinho complicado de entender. É difícil de entender o quanto é o sobrenatural e o quanto é a deterioração do estado mental dos personagens. Mas há um elemento sobrenatural na história e esse elemento é a chave para entender o final complexo da produção. Será que você compreendeu?

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Atualmente, o filme está disponível na Netflix. Hereditary foi lançado nos cinemas em 2018.

Um resumo rápido e uma explicação do fim de Hereditary

Peter (Alex Wolff), agora possuído por Paimon (“um dos oito reis do inferno”), é adorado pelo culto ao demônio que sua avó, declarada “Rainha Leigh” pelos seguidores, liderou formalmente com Joan (Ann Dowd) como sua imediata. Os corpos decapitados dos pais de Peter foram organizados em uma posição de adoração, e Peter é chamado de Charlie (Milly Shapiro), porque também tem o espírito de sua irmã, que é informada de que a trindade (presumivelmente a Santíssima Trindade do Pai, o Filho e o Espírito Santo) foi destruída e que Paimon agora reina. “Hail Paimon!”

Peter é o grande alvo do vilão de Hereditary. Paimon o quer como seu hospedeiro
Peter (Alex Wolf) é o grande alvo do vilão de Hereditary. O demônio Paimon o quer como seu hospedeiro

Então, o que exatamente levou a essa conclusão? A maior pista é o nome do filme – Hereditário ou Hereditary, em inglês. Há algo específico nesta família linhagem e, embora o título também se refira a doenças mentais, há algo especial na linhagem de Leigh que ela precisa para invocar Paimon, que concederá riquezas a seus seguidores enquanto estiver no corpo de um hospedeiro masculino. Annie (Toni Collette) passou a vida tentando manter a influência da mãe longe da família, principalmente dos membros masculinos. Ela tentou abortar Peter e não queria que sua mãe sequer tocasse nele. Isso remete à “esquizofrenia” sofrida pelo falecido irmão de Annie, que disse que sua mãe estava “tentando colocar as pessoas dentro dele”. Mais tarde, descobrimos que Paimon precisa de um anfitrião do sexo masculino. Talvez, por isso, talvez inconscientemente, Annie concordou com o fato de sua avó estar perto apenas de Charlie, que parece ser a única da família que realmente lamenta sua morte.

Vale lembrar que este ritual começa quando Peter vê Joan do outro lado da rua, gritando um ritual de exorcismo do seu próprio espírit. A princípio não parece funcionar, mas quando ele está na aula, Peter é subitamente surpreendido por uma força invisível e bate violentamente o rosto contra a mesa. Seu pai o busca e o leva para casa e encontra Annie em choque. Após cuidar do filho, ele ouve tudo o que ela descobriu sobre o culto a Paimon e que é incapaz de queimar o caderno com desenhos misteriosos sozinha. Ela pede a Steve (Gabriel Byrne) para fazer isso, mas percebendo que as coisas ficaram fora de controle, ele diz que não pode mais fazer isso, que ela está doente, e que vai chamar a polícia. Chocada, assustada e magoada, Annie pega o livro dele e o joga no fogo, preparada para se sacrificar se isso significar salvar Peter. Mas em uma reviravolta chocante, Steve pega fogo, e a reação horrorizada de Annie de repente se transforma em paz quando Paimon a possui. Note que para possuir as pessoas ele precisa que elas estejam emocionalmente vulneráveis: Charlie triste no enterro, Annie chocada com a morte do marido e, finalmente, Peter atordoado ao cair da janela. Seu hospedeiro masculino!

Quem é Paimon e o que seu culto deseja?

No filme, se trata de “um dos oito reis do inferno”. Mas vale lembrar que o nome existe no mundo real. Paimon é citado em antigos grimórios e o seu selo ressurge no filme justamente nos minutos finais.  Quando Peter acorda depois de seu pai morrer, ele acaba descobrindo sua mãe enlouquecida e foge acreditando que é mais um ataque de sonambulismo (o que talvez nunca tenha sido). Ao se esconder no porão, ele vê Annie serrando a própria cabeça com uma corda de piano. Essa decapitação parece ser o processo para libertar o espírito de Paimon do hospedeiro, o que explica a decapitação de Charlie.

Entre as outras características, o demônio costuma ser retratado cavalgando um dromedário ao invés de um cavalo. A coroa retratada no filme também aparece nos antigos tomos que descrevem Paimon em sociedades antigas. Não há, porém, referências a possessões como no filme. Aliás, em Hereditary, Annie não era a responsável pelo seu estado de sonambulismo e não é culpada devido aos laços de sua mãe. Mas seu envolvimento com o culto é subconsciente ou hereditário? De acordo com o próprio diretor, na verdade era o culto que puxava as cordas o tempo todo. “O público deve suspeitar que pode ser Annie, mas é o culto do qual Ann Dowd é uma parte muito significativa. Mas você deve sentir através do filme que há pessoas na periferia que estão observando esta família e estão pairando lá fora.”

Como Peter se tornou Paimon?

Charlie eventualmente se tornou o anfitrião de Paimon, uma espécie de substituto, já que Ellen não conseguiu chegar até Peter, mas Paimon ainda precisa de um hospedeiro masculino da linhagem de Leigh para conceder suas riquezas (é por isso que ela não foi atrás do marido de Annie, Steve) . Quando Charlie morre, Joan usa isso como uma abertura para usar a sessão espírita como uma forma de transferir Paimon de Charlie para Peter. Paimon ainda é capaz de usar sua influência para queimar Steve vivo e fazer com que Annie corte sua própria cabeça, mas o culto de Paimon ainda precisa que o demônio tenha um hospedeiro. Quando Peter se joga pela janela, isso proporciona a abertura para Charlie/Paimon habitar seu corpo. Sem Steve ou Annie por perto, Peter fica completamente vulnerável, permitindo que Paimon assuma o controle de seu corpo.

O culto vence e Peter passará o resto de seus dias como hospedeiro de um demônio que assassinou sua família. É um destino bem cruel.

Confira o trailer do filme:

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