Entenda o final de ‘Lamb’

Dirigido pelo islandês Valdimar Jóhannsson (A Guerra do Amanhã), Lamb foi lançado em 2021 e é mais uma prova da competência do diretor que faz muito com poucos elementos e deixa o espectador sempre tenso. Nesta fábula fantástica, escrita pelo diretor e por Sjón, o casal Maria (Noomi Rapace) e Ingvar (Hilmir Snær Guðnason) tem uma vida monótona e sem brilho após tentarem ter um filho. O que lhes sobra é sua criação de ovelhas até que um dia uma delas dá como cria um bebê meio humano e meio ovelha.

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Maria lhe dá o nome de Ada, que pertencia ao seu filho natimorto e o casal passa a trata-lo como uma criança normal até que o irmão de Ingvar, Petur (Björn Hlynur Haraldsson), chega e se incomoda com a felicidade do casal diante de uma situação tão absurda ao mesmo tempo que flerta com a própria cunhada (fica implícito que os dois já tiveram algum tipo de caso antes). Depois de algumas semanas em que a tranquilidade parece destinada a acabar, Maria convence o cunhado a ir embora e deixar o casal com sua felicidade.

É neste momento que Lamb dá um ponto de virada inesperado. Pouco antes de Petur chegar, Mari matou a ovelha que gerou Ada, por estar atormentada pelos berros do animal em busca da cria e até mesmo por quase ter conseguido leva-la para longe do casal. Achamos que apenas o irmão de Ingvar havia visto o assassinato, mas aparentemente outra criatura também viu.

Surge um misterioso homem-carneiro, que mata Ingvar após cortar seu pescoço e portando sua arma de fogo. Entendemos então que esta misteriosa criatura explica a existência da própria Ada já que, aparentemente, é este mutante que procriou com uma ovelha (no início de Lamb vemos o que pode ter sido este momento) e gerou outro ser semelhante. Mas por que matar Ingvar e não Maria?

Ao assassinar o homem do casal, o homem-carneiro devolve à Maria o castigo que ela lhe destinou: deixa-la sem companhia e sem cria. Mais do que isto, o filme se apresenta ao espectador como uma fábula com a seguinte moral: não desafie as leis da natureza. Ao roubar a cria de uma ovelha e cria-la como humana, o casal atentou contra uma ordem natural que sequer conheciam.

Porém, se a natureza seguisse seu curso é provável que a ovelha assassinada por Ada, reencontraria o Homem-Carneiro e, de alguma forma, criariam juntos sua própria criança. Afinal, ao roubar o filho da mãe biológica, Maria fez com que a criatura passasse pelo mesmo que a natureza lhe fez passar.

Agora, orfã de pai adotivo e mãe biológica, Ada será criada pelo seu pai biológico enquanto a última cena dá a entender que Maria pode estar prestes a enlouquecer por ter perdido tudo ou simplesmente aceitar seu destino: ela não tem e não terá filhos biológicos e agora não tem mais seu próprio companheiro também.

É necessário lembrar também que Petur, incomodado pela presença de Ada, chega a apontar uma arma para a criança com a intenção de mata-la mas desiste. É possível que o Homem-Carneiro tenha presenciado a cena e odiado ainda mais a família que ameaça sua prole. Mas há outras referências também.

Lamb e suas referências

No cristianismo, o “Cordeiro de Deus” é uma das formas de se referir a Jesus Cristo, o Messias, que nasce numa manjedoura em um cenário campestre muito parecido com o do filme. Note que a personagem de Noomi Rapace tem o nome de Maria, mãe de Jesus na bíblia, enquanto Petur é a versão islandesa de Peter ou Pedro, apóstolo que só acreditou estar diante do cordeiro de Deus após vê-lo caminhar nas águas. Da mesma forma, o irmão de Ingvar não acredita que aquela criatura seja mais que um animal até estar prestes a mata-la.

O próprio nascimento de Ada é visto pelo casal como um… Milagre! Aliás, o nome é uma referência a uma filha do personagem bíblico Esaú, que é um homem peludo na bíblia e chega a perder a benção do pai quando seu irmão se veste com uma pele de… Cordeiro! Estas referências não tornam a Ada do filme algum tipo de messias, mas apenas enriquecem o filme funcionando quase como uma piscadela do diretor Valdimar Jóhannsson para o espectador que nota estas conexões.

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