Na noite do último domingo, Emily Blunt recebeu o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante no SAG Awards (prêmio do sindicato de atrizes e atores) por sua atuação no filme de horror Um lugar silencioso. Com exceção dos prêmios especializados, como o Saturn Awards, é pouco comum que filmes do gênero sejam premiados nos principais eventos do cinema e da televisão estadunidense. Blunt é uma figura conhecida para aqueles que acompanham obras de suspense e terror, especialmente pela atuação como a protagonista do filme A garota no trem.
Embora o prêmio para Blunt seja muito merecido, as qualidades do filme vão além de sua excelente atuação. Primeiro, pela criatividade da história. O clima pós-apocalíptico coloca em cena misteriosas criaturas que parecem ter dominado o mundo. Esses misteriosos seres são cegos e se orientam pelos sons, apresentando uma audição extremamente desenvolvida. Para sobreviver, as pessoas não podem fazer qualquer barulho ou precisam encontrar lugares com barulhentos elevados e constantes, como um rio ou uma cachoeira. O silêncio, que poderia significar simbolicamente a busca por um lugar tranquilo para viver, acaba por se tornar uma necessidade vital indispensável e até mesmo um motivo de tensão entre as pessoas.
O silêncio parece ser uma necessidade comum ao gênero, afinal os personagens em muitas situações se escondem silenciosamente do perigo para se manterem vivos. O diferencial de Lugar silencioso passa pelo fato de que o silêncio é a regra, enquanto nos demais filmes o silêncio se torna necessário apenas nos momentos de perigo. Em Lugar silencioso, os diálogos são poucos, quase desnecessários, exigindo de Blunt e dos demais atores uma expressividade que, embora comum no trabalho dos atores, comumente não recebe a merecida atenção. Parece que, depois de décadas de uma certa forma de fazer cinema, o espectador se acostumou ao diálogo como principal elementos das narrativas, sem reparar que aquelas palavras seriam um mero texto frio sem o complexo trabalho de interpretação.
O filme Lugar silencioso também mostra uma coragem rara em produções dos mais diversos gêneros, que é a morte (brutal, embora não mostrada em detalhes) de uma criança. O garoto apenas queria brincar com um brinquedo que fazia muito barulho, o que mostra a extrema crueldade da nova realidade que se vive. Não há possibilidade de distração ou mesmo de diversão. Essa morte acaba afetando todos os membros da família, que se sentem culpados pelo ocorrido e parecem ter dificuldades em superá-lo.
Outro aspecto ainda é o papel das duas mulheres, mãe e filha. Apesar de suas dificuldades – uma está grávida numa situação em que não há mais atendimento adequado de saúde e a outra é surda – são as figuras fortes do filme. O enfrentamento final com a criatura mostra sua força e coragem, lembrando outra criativa produção recente, o filme Um monstro no caminho. Inclusive, colocar um bebê para nascer numa situação tão complicada e as dificuldades que isso poderia criar (como o choro frequente da criança) são elementos que também mostram a grande criatividade do filme.
O filme Lugar silencioso possivelmente não terá destaque nas demais grandes premiações, principalmente por estar competindo com produções milionárias. Contudo, mesmo que esteja restrito a festivais ou a premiações alternativas, o filme é certamente uma das melhores realizações que surgiram no horror nos últimos anos e deve ser lembrando como uma das várias excelentes experiências que mostram o novo vigor que o gênero vem demonstrando.