‘Emilia Pérez’ é um desbunde no México sem mexicanas

Apesar de problemas como apropriação cultural e falta de representatividade mexicana entre protagonistas, filme da Netflix tem seus acertos

Cercado de críticas justas, Emilia Pérez tem coisas boas (e algumas ruins) assim como acertos e erros. Sim, o sotaque d0 Selena Gomez (Jessi) incomoda e atrapalha muito sua atuação assim como não é justo que nenhuma das três protagonistas seja mexicana. Fora Adriana Paz (Epifania), o elenco acaba sendo uma mistura de povos que falam a mesma língua, mas não são o mesmo povo: a brilhante protagonista Karla Sofía Gascón vem da Espanha (país que colonizou o Mexico, vale lembrar), Zoe Saldaña é nascida nos Estados Unidos, assim como Selena e, mesmo entre os coadjuvantes, temos o venezuelano Édgar Filiberto Ramírez Arellano (Gustavo) e o ucraniano Mark Ivanir como Dr. Wasserman.

Não ajuda o diretor Jacques Audiard ser francês e ter dado depoimentos controversos sobre não querer estudar a história do México. A verdade é que o musical poderia se passar em qualquer país de língua espanhola com problemas com cartéis de trafico e se Audiard escolheu que fosse o México poderia, pelo menos, ter tido a decência de estudar e procurar saber a respeito do país. Dito todo esse longo preambulo, Emilia Pérez é um filme tão tecnicamente bem feito que supera os problemas visiveis ainda que não apague suas questões de bastidores.

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Emilia Pérez aborda a competente advogada mexicana Rita (Saldaña) recebe uma oferta de trabalho milionária e perigosa: ajudar um famoso chefe de cartel (Gascón) a se aposentar, desaparecer e passar a viver como mulher. Uma vez que concluir tudo, precisa que ela mantenha o segredo e salve também seus filhos e a esposa Jessi (Gomez). Tudo isso em um musical com coreografias e canções que fogem do padrão hollywoodiano e atuações convincentes, especialmente de Zoe de Saldaña e Paz. Fica complicado para Selena Gomez quando ganha atenção porque seu sotaque atrapalha, cria momentos de inflexão que não parecem estar no texto. Enfim, fica a impressão que ela não se preparou o suficiente para o papel.

Vale lembrar que nem Saldaña ou Gascón parecem buscar um sotaque tipicamente mexicano, mas apenas reproduzir suas falas com o espanhol que tem. Audiard fez um filme para quem não é nativo em espanhol, a quarta língua mais falada do mundo e com especificidades em cada país. Um típico equívoco que brasileiros, por exemplo, dificilmente notarão assim como estadunidenses. E o grande segredo para degustar do que o Emilia Pérez tem de bom é tentar entender que embora seja um filme que se passe no México (aliás, tudo foi filmado em Paris, terra natal do diretor) e tenha personagens mexicanas não é exatamente sobre o México. Mas sobre o caminho que pessoas trans buscam para a felicidade.

Por que Audiard e os produtores quiseram contar esta historia lá e não em outro lugar, é para reflexão do publico, dos cineastas e elenco e dos jurados que premiarem o filme. Aos 52 anos, a atriz trans Karla Sofía Gascón parece viver seu grande momento na carreira e é legítimo que pessoas trans se sintam (ou não) representadas por ela. Uma resenha da CBC chamou o filme de inconsistente. Embora injusto com os acertos técnicos do filme parece ser merecido por uma produção com tantos descuidos com a própria imagem mesmo com tanto mérito cinematográfico.

Nota: 7

Confira o trailer de Emilia Pérez:

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