Em seu discurso de posse, Regina Duarte chamou a atenção para a abertura de diálogo com a classe artística. É um ponto de vista válido em um governo que acha lícito colocar humorista para humilhar repórteres, espalhar fake news e impor a censura a conteúdos, ainda que de forma velada.
O diálogo só é possível e válido quando vem dos dois lados. Regina aceitou fazer parte de um governo que prega o extremismo. Em campanha, Jair Bolsonaro falou em metralhar a oposição e trazer de volta a tortura. Muitos desses alvos também eram artistas. Não há conversa possível com quem fala em nos matar ou machucar. Se a vontade do presidente eleito é de mudar, melhor para o Brasil.
Não há ações que indiquem isto além da entrada de uma nova interloucutora. Parece pouco. E talvez seja.
Entretanto, se é Regina quem quer se colocar como uma mediadora, é dever da classe artística lhe dar o benefício da dúvida. A atriz nunca escondeu suas convicções políticas, mas elas não lhe tiram sua importância na história da teledramaturgia e luta contra a ditadura militar. Em 1975, um momento mais perigoso para o Brasil, pôs seu nome com outros artistas em carta ao então presidente Ernesto Geisel. É parte de sua história. Como os papéis que viveu e sua atuação marcante. Ela é uma atriz, uma artista. Faz parte da classe.
Regina deve ter o que comediantes chamam de “seus cinco minutos”. Seu tempo para mostrar que pode mediar o que parece ser imediável. Tomara que consiga. Seu sucesso é o sucesso do Brasil, da arte brasileira e da cultura. Entre suas medidas, optar por indicações técnicas e retirar cargo comissionados da ala olavista/terraplanista do governo é ótima medida. Que ela mergulhe no caminho do critério técnico e de se cercar de profissionais do meio. É o respeito que a arte brasileira merece. Luzes na ribalta, que a secretária faça por merecer aplausos. O POPOCA seguira atento.