Há um momento em Destacamento Blood que os protagonistas viajam por barco pelo Vietnã em meio ao som de “A Cavalgada das Valquírias”, de Wagner. A citação não é a ópera “As Valquírias”, mas ao filme Apocalipse Now, de Francis Ford Coppola em que a mesma trilha épica é usada em uma cena de destruição quase obscena.
Spike Lee não referencia o filme do diretor de graça, sua jornada de quatro veteranos norte-americanos de volta ao Vietnã, que ajudaram a destruir e a traumatizar “por uma guerra que não era nossa e por direitos que nós não tínhamos”. Destacamento Blood é o filme de guerra mais antiguerra já visto: suas cenas de combate não glamourizam a violência, criam traumas e cicatrizes no espectador e misturam realidade e ficção. Afinal, todas as guerras começam como uma narrativa para esconder seu real motivo: dinheiro. Durante a guerra do Vietnã, quatro soldados norte-americanos deixaram para trás o corpo de seu capitão (Chadwick Boseman) e milhões de dólares em ouro, usado pelo governo norte-americano para subornar traidores locais e ajudar no financiamento da guerra. O tesouro perdido mistura-se ao cadáver do único entre eles que não teve a chance de envelhecer. Na sua lógica interna, Lee opta por manter os mesmos atores nas cenas do presente e futuro, contrastando com o jovem Stormin (Boseman) e aumentando a dramaticidade do filme e o impacto da guerra em uma vida. O quanto deixamos para trás em conflitos tão sangrentos? É um misto de realismo fantástico com documentário que assusta e empolga, mas não pela ação de fogo e fúria, mas de impacto dramático.
Não deixa de ser curiosa a opção por Boseman como um capitão que encoraja seus soldados a se manterem vivos e refletirem sobre as condições de afrodescendentes em conflitos. Intérprete do Pantera Negra, super-herói negro que quebrou um paradigma em Hollywood e inspira uma geração desacostumada a se ver como protagonista.
Delroy Lindo (Paul) faz de seu papel um manifesto em torno de um personagem destruído e que só funciona em combate. “Estou quebrado” revela ao melhor amigo Otis (Clarke Peters). É uma atuação digna de Oscar sobre o discriminado que se revolta contra tudo e contra todos exceto com o próprio sistema. É emblemático. “Você tem que se perdoar”, revela um personagem.
Ao final, Lee retoma cenas documentais para reforçar sua verdade como em Infiltrado na Klan.
Nota: 10
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