A nova produção de Spike Lee talvez seja o filme mais necessário desta década. Em uma era em que ódio se tornou novamente aceitável, um dos diretores mais injustiçados pela Academia dá seu tapa na cara com Infiltrado na Klan, que pode até não vencer o Oscar mas vai contar com a minha torcida.
A trama é ocorre em 1978, quando o Flamengo se sagrou campeão estadual em cima do Vasco. O policial negro Ron Stallworth (John David Washington), do Colorado, consegue se infiltrar na Ku Klux Klan local, se comunicando com os membros do grupo por meio de telefonemas e cartas, mas quando precisava estar fisicamente presente enviava um outro policial branco no seu lugar. O problema é que Flip Zimmer (Adam Driver) é judeu…
Em tempos em que ainda há quem discutela se o racismo pode ser reverso ou outras desonestidades intelectuais do gênero, Spike Lee assume para si a tarefa de desenhar e explicar o óbvio: as raízes do pensamento supremacista, como não faz sentido e suas consequências. Tudo em uma direção didática, com um roteiro preciso em que divide os créditos com Charlie Wachtel, David Rabinowitz e Kevin Willmott. Os atores Driver, Washington, Topher Grace e Laura Harrier são um veículo para esta contrução e se deixam levar por uma jornada magnífica que nos leva sempre ao mesmo lugar.
Esta análise pode dar a impressão de que Infiltrado na Klan é um filme panfletário, mas seria injusto. Lee traz a verdade de dois lados da história, mas com um que é sempre morto, massacrado e vilipendiado.
Dias depois de assistir o filme e enquanto redigia esta crítica, David Niobio, aluno de odontologia da UFF, era baleado por policiais no Rio de Janeiro. As autoridades o acusam de tráfico. Mesmo passando no vestibular em um curso tão concorrido, David não conseguiu que o vissem como um ser humano. A história muda de lugar, mas segue a mesma. E nas cenais finais de Infiltrado na Klan, notamos como é uma história universal. E tão perto de nós.
Nota: 10
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