Nesta terça-feira (1º) chegou à Netflix a 2ª temporada de Criando Dion (Raising Dion) depois de um hiato de mais de dois anos. Esse intervalo na produção causado pela pandemia de Covid-19 fez com que a trama precisasse de um salto temporal. Afinal, quando os protagonistas são crianças você não pode simplesmente ignorar seu crescimento. Mas dois anos longe desses personagens pareceram nem existir perante o reencontro.
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Alerta de spoiler: Contém detalhes do enredo da temporada.
Agora com 10 anos, Dion (Ja’Siah Young) está mais confiante de seus poderes por conta do treinamento na BIONA. E sem que Nicole (Alisha Wainwright) saiba, ele sai toda manhã para “manter a vizinhança em ordem” com as coordenadas de Esperanza (Sammi Haney) e Jonathan (Gavin Munn). Mas ele nem imagina que tudo que ama está sob ameaça.
A temporada já começou com um plot twist e tanto, pois descobrimos que Pat (Jason Ritter) não morreu na batalha no campo de futebol. Até aquele momento acreditávamos que ele e o Homem Torto (Crooked Man) eram uma coisa só, que era parte dos seus poderes. E descobrir que a Energia Tortuosa é um tipo de simbiose (quase como Venom) leva a algumas reflexões. Já era intrigante que de todos que presenciaram a tempestade solar na Islândia apenas Pat ficasse doente por causa dos poderes. Então faz todo sentido que a doença fosse causada por uma energia simbiótica que precisa se fortalecer para em algum momento ganhar forma própria, e para isso usar a energia de seu hospedeiro. Por isso Pat ficava bem quando matava um sup.
Ainda sobre a Energia Tortuosa em Criando Dion, é interessante a forma como ela escolhe seus hospedeiros. Ela sentiu em Pat a inveja, ciúmes e ambição antes que ele próprio tivesse noção desses sentimentos. E Brayden (Griffin Robert Faulkner) se tornou um alvo perfeito quando sozinho, sem orientação e sem amor, viu a escuridão crescer dentro de si. Não existe tal coisa como “criança sem salvação”, tanto que bastou que Nicole o lembrasse do amor de sua mãe para que Brayden se livrasse do controle da Energia Tortuosa.
Essa temporada também desenvolveu mais a “ciência” envolvendo os poderes, principalmente com a BIONA ajudando os sups a treinarem. O conceito de que os sups têm um filamento a mais no DNA (formando o P-DNA) que determina os poderes foi criativo. Tudo bem que a ideia não é exatamente nova, descobri com a equipe do Popoca que Anne Rice usou o mesmo conceito em A Hora das Bruxas. E ok que cientificamente isso não se aplica, mas aí nenhuma das explicações dos poderes de super-heróis conhecidos é possível no mundo real. E é por isso que se chama ficção.
Também foi interessante mostrar as divergências entre os cientistas. Enquanto Suzanne (Ali Ahn) e grande maioria na BIONA realmente se preocupa em ajudar os sups a entenderem e usarem seus poderes e serem aceitos na sociedade, David (Josh Ventura) estava mais preocupado em encontrar uma forma de lucrar. Porque existem mercenários em todos os lugares, e isso lembra a disputa vacinas X medicamentos que temos vivenciado.
Mas vamos ao principal que é Dion e sua criação, já que é isso que dá nome à série. Sabe aquele provérbio africano que diz que “é preciso uma aldeia para educar uma criança”? Se parar para analisar, é exatamente isso que Criando Dion mostra. Mesmo que Nicole seja mãe solo, ela não está sozinha na criação de seu filho. A escola, os amigos (muito amor pelo Triângulo da Justiça!) e agora seu treinador Tevin (Rome Flynn) possuem funções importantes na criação e formação da pessoa que Dion está se tornando. Não é a toa que estavam chamando de “aldeia” o grupo que Nicole convocou para cuidar de Dion caso ela morresse.
Em contraste temos Brayden, que dependia exclusivamente da família. E quando se viu sem os pais, se perdeu. E Janelle (Aubriana Davis) com a superproteção de sua mãe Simone (Tracey Bonner) tornando-a uma pessoa raivosa. Foi preciso que outras pessoas entrassem em sua vida para que a jovem se sentisse compreendida e desabrochasse. Simone não é uma pessoa má, apenas representa muitas mães e pais pelo mundo que acreditam serem os únicos capazes de proteger seus filhos. E nessa ânsia de proteção esquecem que o ser humano é um animal sociável, e que ninguém vive sozinho.
Bem, Janelle agora está empoderada e maravilhosa. E agora que Brayden não está mais sobre a influência da Energia Tortuosa é provável que ele encontre uma nova família em Atlanta para poder treinar na BIONA. Quem sabe fazer a pazes com Triângulo da Justiça e virarem o Quadrado da Justiça?
Claro que nem tudo foi perfeito. Esse salto forçado de dois anos acabou fazendo algumas coisas soarem estranhas. Como Brayden levar todo esse tempo pra chegar até Dion, e nesse ínterim viver a base de doces e cereais matinais. Mas como circunstâncias externas levaram a isso, damos um desconto.
Até agora não há informações sobre renovação, mas é visível a intenção de continuar a trama. Kat (Jazmym Simon) indo trabalhar na BIONA, pode significar novas descobertas sobre os sups. E tem aquela cena pós-créditos futurista que pode ou não ser um indicativo do enredo da 3ª temporada. Sim, a série até poderia dar um grande salto e mostrar um mundo onde Pat forma um exército de sups do mal para dominar o mundo e ser enfrentado por um Dion adulto. Mas isso fugiria do contexto do título Criando Dion, então poderiam apenas surgir flashforwards mostrando esse futuro. Porém, as falas e figurinos da cena também podem sugerir que se trata da imaginação de Dion.
Numa 3ª temporada os fãs também esperam ver a evolução do relacionamento entre Nicole e Tevin. E o retorno de Michael B. Jordan como Mark, mesmo que apenas em flashback. Então vamos torcer para que a Netflix decida pela renovação de Criando Dion. E também não seria ruim se uma editora brasileira lançasse por aqui as HQs de Dennis Liu que inspiraram a série.
Nota: 8
Trailer da temporada: