Para fechar o Desafio Literário Popoca de outubro, com o tema contos de fadas, resolvi finalmente pegar um outro livro do Gregory Maguire, famoso por Wicked, que ficou tão conhecido que transformaram num dos musicais de maior sucesso da Broadway. Tanto que quase virou filme, mas produziram aquele espanto que é Cats no lugar (pense numa aposta ruim!).
SPOILER FREE
O lance do autor é reconstruir outras histórias clássicas, como ele fez tão brilhantemente com O Mágico de Oz em Wicked, mas ele tem uma preferência por contos de fadas. Caso você procure por sua bibliografia, vai perceber que ele já escreveu diversas adaptações dos mais variados contos supostamente infantis, mas, suas versões costumam ser bem mais, como dizer, adultas.
Lançado em português pela José Olympio, Confissões de uma Irmã da Cinderela traz uma versão um tanto quanto diferente da história tradicional, mas mantendo todos os principais traços do enredo original. Contada do ponto de vista da filha mais nova da madrasta, Gregory nos apresenta personagens bem mais humanos e, portanto, imperfeitos do que estamos acostumados. Iris é uma jovem que se considera totalmente sem graça, mas, fugindo com o resto da família da Inglaterra, se encontra numa cidade da Holanda onde oportunidades novas surgem. Sua mãe, Margareth, recém viúva, consegue um emprego no atelier de um famoso pintor da região, e ela e sua irmã Ruth se veem atraídas por uma das pessoas mais misteriosas da cidade, Clara, uma jovem de beleza tão incrível que seus pais a mantém presa em casa.
Com maestria, Gregory consegue criar uma história que leva essa situação até a do conto original, onde Clara se torna Cinderela, mas não exatamente a mesma que conhecemos, mas sim uma bem mais complexa e interessante, assim como suas meias-irmãs e madrasta. Sem fazer uso de realismo fantástico, o autor fia um enredo crível não só de acontecer, mas também de explicar porque o conto terminou contado da forma como é. E isso mantendo o leitor entretido e curioso ao mesmo tempo.
Considerando que Cinderela é um dos contos de fadas mais insossos que tem e com personagens tão preto e branco, o que o autor consegue fazer é quase um milagre, porque o resultado é uma história sensacional e cheia de personagens interessantes. Assim como Wicked fez a passagem para outra mídia, Confissões de uma Irmã da Cinderela chegou a virar um filme da Disney, lançado direto para TV em 2002. Infelizmente o programa que ele fez parte é tão obscuro que hoje não está disponível em quase lugar nenhum, o que me impediu de assistir. O que é uma pena, adoraria ter visto Stockard Channing (uma das dias do filme Da Magia à Sedução) no papel de madrasta, tenho certeza que ela acertou em cheio na personagem.
Com toda a qualidade de Gregory Maguire, não entendo porque tão pouco de sua obra saiu em português, vale a pena ler o que tem disponível.
Nota 9.