Em quatro anos, o Brasil perdeu 6,7 milhões de leitores segundo a pesquisa Retratos da Leitura. Pela primeira vez na história da pesquisa, a proporção de não-leitores é maior do que a de leitores na população brasileira: 53% das pessoas não leram nem parte de um livro – impresso ou digital – de qualquer gênero, incluindo livros didáticos, bíblia ou religiosos, nos três meses anteriores à pesquisa.
Quando o estudo considera apenas livros inteiros lidos, no período de três meses anteriores à pesquisa, o percentual de leitores diminui para 27%. Livros lidos por vontade própria, inteiros ou em partes e de qualquer gênero, foram lidos por 43% da população brasileira com 5 anos ou mais.
A média de livros lidos no período de três meses também diminuiu, de 2,6 para 2,4. Considerando apenas livros lidos inteiros no mesmo período, é de apenas 0,82 por entrevistado. A pesquisa foi realizada em 208 municípios brasileiros com amostra de 5.504 entrevistados.
A redução no percentual de leitores do Brasil se deu em quase todos os perfis e segmentos pesquisados: faixa etária, gênero, escolaridade, classe, renda e entre estudantes e não estudantes. Somente a faixa etária com 11 e 13 anos e com 70 anos ou mais não teve redução no percentual. A faixa de 11 a 13 anos é a que apresenta o maior percentual de leitores. Isso pode ser explicado pelo fato do estudo considera também a leitura de livros didáticos como parte da investigação.
“Para além das novidades dessa edição, as principais questões que gostaríamos de deixar para refletirmos são: por que temos tão poucos leitores? Os interesses e hábitos de leitura revelados por essa ‘radiografia’ podem explicar se estamos formando leitores críticos e que compreendem plenamente o que leem, essenciais para nosso desenvolvimento social, humano e nossa democracia? E como melhorar esse retrato?”, questiona a coordenadora da pesquisa, Zoara Failla.
Influenciadores pouco atingem leitores do Brasil
Apenas 3% mencionaram influenciadores digitais como motivo para comprarem um livro, atrás, por exemplo, de líderes religiosos. Porém, 8% escolheram seu último livro através de uma crítica ou resenha. O tema ou assunto se mantém em primeiro lugar com 52%. Preço (15%) e Autor (20%) tiveram redução de sete pontos percentuais em comparação com o ano de 2019. Líderes religiosos foram citados por 9% dos entrevistados.
Durante estes quatro anos, o Brasil viu o governo Bolsonaro, a pandemia e outros problemas socio-políticos atacarem a cultura e o livro no Brasil. Um pouco antes nesta época, o POPOCA já alertava a relação entre Jair Bolsonaro e o ódio a livros e leitores. Mas explicação é um pouco mais complexa.
“A verdade é que se nós formos analisar de maneira macro, antes de tudo, nós não podemos esquecer que formar leitores em um país é formar cidadania. E formar cidadania, é política. E a política segue de acordo com o que a maior parte dos governantes imprime para o ritmo do Brasil”, pontuou José Castilho Marques Neto, segundo o PublishNews, que empresta seu nome para a Lei que institui a Política Nacional de Leitura e Escrita (PNLE).
Do governo Temer ao Bolsonarismo
Para Castillo, desde 2015, com a crise do golpe no governo de Dilma Roussef sucedido por Michel Temer, o Brasil parou de dar a importância que deveria para o assunto da formação de leitores, o que explica a queda de leitores entre 5 e 10 anos e no ensino fundamental I. “Ainda estamos em um país com mais de 216 milhões de pessoas onde a absoluta maioria não tem acesso ao livro, a leitura e aos bens culturais e profissionais”. “É importante que nós entendamos que política pública não pode ser algo etéreo, mas sim algo absolutamente necessário ao desenvolvimento sustentável do país”.
O estudo revela ainda que 39% dos entrevistados não frequentariam uma biblioteca pública sob nenhuma hipótese.