Heroes foi uma série marcante apesar de ter terminado sem deixar muitas saudades. Na época, com a concorrência de Lost, o público pôde ver um universo com personagens cheios de superpoderes em uma trama envolvendo mistério e ação. Alguns atores como Zachary Quinto, Milo Ventimiglia e Hayden Panettiere tiveram suas carreiras catapultadas pela série e outros nem tanto como Leonard Roberts.
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Em entrevista à Variety, em 2020, o ator relembrou seu tempo em Heroes e falou de sua relação com Ali Larter. Ambos faziam o casal D.L. Hawkins e Niki, ele com a capacidade de atravessar objetos e ela possuía uma dupla personalidade carregada com superforça. No enredo, o casamento dos personagens esfriava quando o personagem de Roberts passava um tempo na prisão, mas “a arte imitou a vida” e, de acordo com ele, a atriz passou a rejeitar cenas de amor entre os dois. Tudo teria começado com um empurrão durante uma gravação, que ele achou que poderia ser apenas reflexo da tensão da cena. Para mostrar seu respeito, ele lembra que enviou uma garrafa de vinho que Ali jamais deu a entender que recebeu.
Em outra situação, Ali teria ficado furiosa com um pedido de um diretor para que exibisse os ombros em uma cena na cama. Porém, em outra cena bem mais intensa com Adrian Pasdar, que fazia o personagem Nathan Petrelli, a atriz não teria manifestado a mesma preocupação e até mesmo tinha sido solícita em improvisações.
“Eu refleti por que minha colega interpretou exuberantemente uma cena diferente com Petrelli, envolvendo sexo abertamente enquanto usava lingerie. Notei que aspectos envolvendo amor e intimidade expressos através do diálogo com meu personagem, que era seu marido, era desrespeitoso ao seu íntimo. Não pude deixar de me perguntar se a raça era um fator”, questionou Roberts.
Embora seu personagem tivesse poderes de intangibilidade, foi assassinado na segunda temporada de Heroes por outro sem nenhuma relevância ou conflito. Ou seja, de forma banal. Roberts ficou chocado e na época Tim Kring, criador da série, apenas lhe disse que a culpa seria da “falta de química” com Ali. Mas como será que Roberts se sentiu?
“Para os negros, quer façam parte da indústria do entretenimento ou não, a frustração e a dor que passei eram um lembrete muito familiar do que significava se sentir invisível como o protagonista venerado de Ralph Ellison”, lamentou. Escritor negro e norte-americano, Ralph Ellison publicou o livro O Homem Invisível, prêmio National Book Award de 1953, sobre um afro-americano cuja cor lhe dava invisibilidade.
Ali se recusou a comentar o assunto à Variety, mas ao TV Line se disse “profundamente triste” e “com o coração partido” sobre as declarações do ex-colega. A atriz pediu desculpas por “qualquer papel que possa ter desempenhado” nessa situação, mas também disse que o depoimento não combinava com a sua memória da época. Será?
Já Kring afirma se arrepender, mas não explicou claramente o que pretende fazer daqui para frente. “Olhando para trás agora, 14 anos depois, dadas as lentes muito diferentes com as quais vejo o mundo hoje. Reconheço que a falta de diversidade nos níveis superiores da equipe pode ter contribuído para que Leonard experimentasse a falta de sensibilidade que ele descreve. Tenho o compromisso de melhorar esse problema a cada projeto que desenvolvo. Lembro-me de Leonard com carinho e desejo-lhe tudo de bom”, declarou sem assumir um compromisso objetivo.
Vale lembrar que Roberts buscou conversar com os roteiristas a respeito, mas nunca foi ouvido. Tanto tempo depois do auge de Heroes, sua carreira não decolou por causa da série e poderia ter sido atrapalhada por ela. O ator chegou a ouvir do produtor-executivo Dennis Hammer uma explicação quase surreal.
“Hammer disse que eu era ‘amado’ e Larter era ‘odiada’ por muitos por seu comportamento, mas eu só queria ser capaz de fazer meu trabalho. Hammer então deixou claro que negaria o que disse se eu divulgasse essa revelação. Reforcei que era um absurdo ouvir aquilo e, quando a reunião terminasse, seria ela a que ainda teria o emprego e eu seria o desempregado”, criticou.