Nos últimos anos ganhou espaço o debate sobre a participação de mulheres na direção de filmes de horror. Além de iniciativas de produção coletiva, como a antologia XX (2017), nas redes sociais também ganharam espaço listas e desafios que procuram chamar a atenção para a participação feminina nessa cinematografia. Os debates que vem sendo realizados e as informações resgatadas por pesquisadores e críticos permite analisar e tirar algumas importantes conclusões.
Primeiro, que, a despeito da participação feminina na direção do cinema de horror, ela se dá de forma minoritário no conjunto do gênero. O mesmo ocorre na literatura, onde os autores canônicos do gênero em sua maior parte são homens e, no caso das mulheres, apenas um pequeno número tem o nome reconhecido. No cinema, de forma geral, ainda é reduzido o espaço dado a mulheres. Nenhuma diretora conseguiu construir uma carreira exclusivamente no cinema de horror, sempre tendo de trabalhar em outros gêneros ou mesmo para a televisão, como é o caso da premiada Kathryn Bigelow, diretora do filme Quando chega a escuridão (1987).
Em segundo lugar, percebe-se que essas produções dirigidas por mulheres, com raras exceções, não expressam particularidades de uma linguagem ou de um estilo próprios. No geral, essa cinematografia tem homens como produtores e as mulheres que atuam na direção são muito mais funcionárias que executam um trabalho, como também ocorre com a maior parte de seus colegas homens. Um dos exemplos disso é o clássico Massacre na Festa do Pijama (1982), de Amy Holden Jones, um típico filme slasher em que um assassino serial persegue e mata jovens mulheres.
E, terceiro, há poucos filmes de grande projeção no cinema de horror que tenham sido dirigidos por mulheres. Os exemplos mais conhecidos talvez sejam Cemitério maldito (1989), de Mary Lambert, e Garota infernal (2009), de Karyn Kusama. Muitas são produções de baixo orçamento que, mesmo quando são elogiadas pela crítica ou por espectadores mais fiéis ao gênero, passam quase que despercebidas pelo grande público, como é o caso de American Mary (2012), das irmãs Jen e Sylvia Soska, de O Babadook (2014), de Jennifer Kent, e do instigante Garota sombria caminha pela noite (2014), de Ana Lily Amirpour.
Nos últimos anos percebe-se uma mudança nessa situação, com a ampliação numérica de mulheres à frente do cinema de horror e a formação de uma criativa cinematografia autoral. O que talvez ainda falte é a possibilidade de as diretoras se dedicarem exclusivamente ao gênero e de terem a oportunidade de dirigir obras de grande projeção publicitária e financeira. Para o próximo período projetam-se pelos menos duas destacadas produções que terão mulheres na direção, uma delas a reinterpretação do clássico Rabid, pelas irmãs Soska, e um novo Candyman, dirigido por Nia DaCosta. Existe ainda um longo caminho a trilhar, mas essa história de tantas décadas, cujo primeiro grande nome possivelmente é a hoje pouco conhecida Stephanie Rothman, vem ocupando o espaço mais que merecido e sendo fundamental para a renovação do horror.