Se ainda puder assistir Assassinos da Lua das Flores no cinema, vá. Se só puder conhecer esta história pelo streaming, veja e se tiver como, compre o livro homônimo (o best seller homônimo de David Grann) em que a história se baseia. De cara, é difícil entender como roteiro do diretor Martin Scorsese e de Eric Roth não foi indicado na categoria melhor roteiro adaptado.
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Assassinos da Lua das Flores é um filme, sem dúvida, melhor do que O Irlandês e que tinha tudo para cair no problema de salvador branco exceto pelo fato de que Scorsese é um diretor excepcional e faz quase um tratado sobre os problemas de um colonizador oprimir uma cultura nativa e quem é o vilão da história. É quase como um antifaroeste em que o povo Osage são os mocinhos. O esmero do diretor tornou possível filmar com o uso da língua nativa em que Leonardo DiCaprio e Robert De Niro até executam diálogos no idioma indígena.
Narrado através do improvável romance entre Ernest Burkhart (Leonardo DiCaprio, em grande atuação) e Mollie Kyle (Lily Gladstone, que alcança uma performance desafiadora), Assassinos da Lua das Flores conta a história real da série de crimes brutais cometidos contra a nação Osage após enriquecerem por meio da descoberta de petróleo em seu território. Essa riqueza atraiu intrusos brancos, que roubaram e assassinaram essa população.
Di Caprio interpreta um homem entre a sua tradição branca e o olhar para um futuro de união, mas que não se decise sobre os limites civilizatórios de pessoas privilegiadas. Como é comum nos Estados Unidos e Brasil, povos originários são voz passiva do que vale e não vale em um mundo onde são obrigados a perdoar seu genocídio enquanto perdem direitos todos os dias. Do outro lado, Lily é a tripla surpresa com a ascensão dramática de sua personagem, um talento inesperado que ofusca os demais astros e um posicionamento firme que nos ensina. Por que perdoar se for para esquecer?
Entre tanta delicadeza e sutileza na direção e atuações, chama a atenção como o filme evita ser panfletário ou moralista mas um documento histórico sobre a injustiça, algo que une todos os povos sem direito a fala. Scorcese prova, mais uma vez, que ainda tem muito o que dizer enquanto diretor. E que bom que podemos ouvir.
Nota: 10
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