Como mês passado descobri um bom livro simplesmente digitando a palavra-chave do Desafio Literário de Maio (“cinco”) no campo de busca da Loja Kindle, resolvi fazer o mesmo esse mês. Com a palavra/tema “inverno” apareceram mais títulos que me interessaram e acabei selecionando três. Para começar escolhi A Magia do Inverno (Whichwood), de Tahereh Mafi, publicado no Brasil pela Universo dos Livros. Uma autora que eu queria conferir já há algum tempo, e pela qual me encantei rapidamente.
Na cidade de Whichwood vive Laylee, uma garota de 13 anos com um pesado fardo. É que ela é uma mordeshoor, o que significa que ela tem a magia para preparar os mortos para suas jornadas. E seu fardo ficou ainda mais pesado há dois anos, quando sua mãe morreu e seu pai se perdeu. Levando-a a assumir o trabalho todo sozinha. Abandonada e menosprezada pelos seus conterrâneos, Laylee se tornou amarga, deixando de achar graça até na Yalda, celebração do solstício de inverno e maior festa da cidade. Mas toda essa amargura e exaustão estão colocando sua vida em risco, e ela nem imagina que precisará da ajuda de dois estranhos. Por descuido, não vi antes de começar a leitura que A Magia do Inverno é uma sequência. O segundo da série Furthermore. Descobrindo o fato quando já estava a quase um quarto do livro. Para minha sorte, não é o tipo de sequência em que é extremamente necessário ler o primeiro antes. É que os livros têm protagonistas diferentes, e são os protagonistas do volume anterior (Além da Magia) que ajudam Laylee. E quando é preciso saber algo sobre eles, o fato é logo explicado. Mas como gostei muito desse, já vou emendar a leitura do outro (felizmente, os dois estão disponíveis no Kindle Unlimited) e prometo logo trazer a resenha.
Voltando aos comentários de A Magia do Inverno, Tahereh Mafi criou um universo esplêndido. Sombrio e encantador ao mesmo tempo. Tanto pelo contexto da trama quanto pela tarefa da protagonista. É importante lembrar que Laylee é a única responsável por preparar os mortos de toda a cidade, o que invariavelmente leva os corpos a se acumularem e se decomporem. E ela precisa lavar os corpos mesmo que estejam começando a apodrecer, ou os espíritos não vão para Otherwhere (terra dos mortos). O que faz algumas descrições serem um pouco nojentas. Ao mesmo tempo em que acontecem passagens lindas.
Então realizar uma tarefa difícil, porém extremamente importante, sem reconhecimento e ainda menosprezada por causa do preconceito com seu trabalho deixaram Laylee sem amor. Nem por si mesma, nem pelo próximo. Chegando a desacreditar em boas ações. Mas com o que normalmente seria a receita de uma personagem intragável, Mafi construiu uma protagonista fascinante. Você a entende, sente empatia, e consegue até se identificar com ela. A verdade é que Mafi criou um enredo com ares de fábula e cheio de dualidades. Inspirada pelas lendas persas, em honra a sua ascendência iraniana, a autora aliou um mundo rico com uma história repleta de temas pertinentes. Vemos tanto o que o desprezo quanto o que a compaixão fazem com uma pessoa. E por essa dualidade achei que a capa nacional não condiz muito com a trama. É bonita, mas sugere algo muito mais “doce” do que realmente é. Considero a capa o original (à direita) mais representativa.
Só não dou nota máxima porque achei a solução final simples demais para uma história que conta com tantas nuances e reviravoltas. Mas foi o livro mais bonito que li nos últimos tempos, e isso conta muito. Não encontrei informações a respeito de mais volumes da série Furthermore, mas pelo jeito que A Magia do Inverno acaba dá a entender que virão mais. E espero por isso.
Nota: 9
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