Mark Millar: “Indústria de HQs ainda deve crescer”

Seria mais uma previsão furada ou outra mentira deslavada de Mark Millar?

Mark Millar escreveu um manifesto publicado pelo site Newsarama.  Ele defendeu ideias sobre o que entende ser uma previsão do crescimento e crise dos quadrinhos em 2013.

O resumo

Para Millar, a indústria de quadrinhos norte-americana tem altas e baixas a cada 20 anos. Surgiram com inacreditável força nos anos 40. Em seguida, decaíram nos 50 e nos 60 ressurgiram com Stan Lee e Jack Kirby. Nos anos 70, nova decadência, e nos anos 80, artistas tornaram-se milionários só desenhando páginas de quadrinhos. Os anos 90 trouxeram uma nova decadência. E, hoje, segundo ele, os gibis voltam a dar lucro.

Aliás, um exemplo desta situação seriam as sagas Crise Infinita e Guerra Civil no topo da lista de vendas. Quase 20 anos depois de Crise nas Infinitas Terras e Guerras Secretas fazerem o mesmo.

E tem mais…

E não pára por aí. Millar acredita que o estouro de vendas e mais $$$ rolando, gera melhores trabalhos. Nos anos 60, X-men e a Marvel surgiram e estão aí até hoje. Vinte anos depois, Cavaleiro das TrevasWatchmen (do autor Alan Moore, na foto ao lado), A Queda de Murdock e outros excelentes trabalhos foram publicados e até hoje são lembrados como marcos dos comics.

Porém e o século 21? Muita gente garante que o Demolidor de Brian Michael Bendis e Alex Maleev é melhor do que o de Frank Miller e David Mazuchelli. Exageros à parte, não resta dúvida que trabalhos como este, o de Grant Morrison na DC Comics e o do próprio Millar em vários outros casos, garantem que vivemos uma ótima era da nona arte.

Relembrando os anos 80: quando artistas como Jim Lee e Rob Liefeld tornaram-se milionários com a Image Comics, Millar defende no seu manifesto que podemos ter um bilionário vindo dos quadrinhos. Para ele, o momento econômico dos quadrinhos deve crescer ainda mais até 2010, quando deve ter um novo baque graças ao maior investidor da indústria nos dias de hoje: Hollywood.

Millar lembra que nos últimos anos, o cinema investiu grandes quantias em adaptações dos quadrinhos, mas que a partir de agora pode agir diretamente, contratando profissionais dos comics para trabalhar no cinema. Frank Miller já co-dirigiu Sin City e digirá Spirit, Grant Morrison escreveu a adaptação de sua própria criação WE3 para a animação e Brian K. Vaughan (Y: O Último Homem) também se envolve com cinema.

Repercussão

A verdade é que muitos roteiristas de quadrinhos escrevem para cinema ou TV (Joss Whedon e Straczinski fizeram o caminho inverso) e alguns desenhistas trabalham com storyboards (espécie de decupagem dos planos a serem filmados) no cinema.

Diante desse panorama, em 2013 não haveria mais artistas para a indústria de quadrinhos. Resultado? Histórias pífias e mais um período economicamente ruim.

O manifesto não ficou sem opiniões contrárias. O escritor de quadrinhos e roteirista cinematográfico Cristos N. Gage, por exemplo. Ele comentou no fórum Millarworld que acredita que a liberdade criativa dos autores impedirá que tantos deixem os quadrinhos.

Vamos lá:

1) Vale lembrar que o período de ciclos não é tão uniforme. A Image surgiu no fim dos anos 80, chegou aqui no Brasil nos anos 90 e, apesar da decadência comercial, existe até hoje. A despeito das crises, encontrou seu nicho – o que, em termos administrativos, é mais importante do que vender milhões em um ano.

2) Muita gente se tornou milionária nos anos 90 também. Rob Liefeld ganhou tubos com a Image e com outros trabalhos. Todd McFarlanne descobriu, muito antes da Marvel, que licenciar é melhor que vender gibi. Spawn virou filme, animação, brinquedo e outros artigos. Em tempo:
nenhum dos dois artistas produzia criações 100% aplaudidas. Entretanto, financeiramente, eram uma mina de ouro. Spawn, assim como a Image, tem um mercado que não cresce, mas se mantém regular. Histórias desenhadas por Liefeld ainda são sinônimo de imensas vendas.

3) Os quadrinhos podem viver um bom momento artístico e regular comercialmente, mas vendem muito menos do que há 20 anos. Com web, animação e cinema cada vez mais fortes, fica difícil conquistar novos leitores. Perder os velhos é inevitável em personagens que evoluem ou mudam pouco em décadas. A verdade é que os Comics  vivem uma crise comercial, com pouca gente comprando quadrinhos. Afinal, o que sustenta as editoras hoje é o licenciamento de seus personagens e não os gibis.

Vale lembrar que a DC Comics pertence à Warner…

4) Mesmo com escritores em filmes, tenho dúvidas se deixarão os quadrinhos. É um meio diferente, com muita concorrência. Ainda que medalhões partam, virão novos talentos que sempre contarão com a visibilidade que os quadrinhos dão nos EUA.

Só o tempo dirá…

A análise de Millar (foto acima) possui bons fundamentos, mas carece de mais dados. Só o tempo dirá se ele está certo ou não. Não acredito em uma nova crise em 2013. Porém é inegável que se os Comics não se redefinirem, serão cada vez menos lidos.

Enfim, vale lembrar que a indústria norte-americana hoje é uma grande fatia no mercado mundial. Aliás, na Europa e, principalmente, o Mangá continuam firmes e fortes. Curiosamente, no Japão é muito comum adaptações cinematográficas de mangás, mas nem por isso ouvimos um leve rumor da decadência comercial dos Mangás. Mas talvez seja uma questão menos econômica e mais de qualidade.

E vocês, o que acham?

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