Asa Noturna

Asa Noturna: o que Clarice Niskier me ensinou

Você já ouviu falar da peça A Alma Imoral, com Clarice Niskier? Será que já esteve em sua cidade? Se está, vá ver. Mas…O que isso teria a ver com o Asa Noturna?

Do que se trata?

O monólogo trata dos diferentes conceitos de moralidade e, principalmente, da dualidade entre tradição e traição. Esta última é sempre vista como algo negativo quando, na verdade, a traição é a guardiã do futuro enquanto a tradição é a guardiã do passado. Deu para entender?

Clarice aponta exemplos como o dos judeus. Quando os romanos estupraram cada judia sabiam que a tradição judaica determinava que os judeus deveriam ter pai judeu. Se os rabinos fossem fiéis à tradição, os judeus pereceriam ali. Mas os sábios traíram a tradição e disseram que seria judeu todo aquele que viesse de mãe judia, independente do pai. Só assim guardaram seu futuro: traindo seu passado.

Mas e o Asa Noturna?

A DC Comics, assim como a Marvel Comics, é uma editora que sobrevive hoje com o licenciamento de seus personagens. O Batman tornou-se uma marca muito mais forte do que qualquer história. Você pode não lembrar do nome de todos os personagens dos dez melhores filmes que viu, mas certamente lembrará do nome dos dez personagens que mais lhe agradam. E, dificilmente, se recordará das dez melhores histórias que eles tiveram.

Afinal, temos no universo de Gotham City os personagens mais tradicionais: Batman, Robin, Batgirl e, por último, Asa Noturna. Dick Grayson ainda não se tornou um personagem tão conhecido e impactante quanto os outros três (experimente perguntar a alguém que não lê quadrinhos, por exemplo). E nem mesmo se tornou um personagem completo como os outros já são.

Quando Grayson abandonou o manto de Robin, ele traiu sua tradição para preservar seu futuro. O personagem já era velho demais para permanecer com um uniforme colorido e nome de passarinho (fora a sunga verde). Infelizmente, a DC não o deixou substituir Batman, pois isso significaria uma traição muito maior do que a editora tem coragem. O problema é que a editora não completa essa traição.

As melhores histórias de Dick Grayson foram como líder dos Novos Titãs – coadjuvante de outros personagens em um processo de enfodecimento semelhante ao de Batman nas histórias da Liga. Ele jamais pôde virar um personagem com brilho próprio porque a DC jamais permitiu que sua traição fosse completa. Ainda que Dick tenha deixado de ser Robin, suas histórias sempre se passam dentro da esfera de Batman ou na de outros personagens.

O que fazer?

O primeiro passo para Asa Noturna deixar de ser um coadjuvante é que ocorra com ele o mesmo processo que ocorreu com Wolverine nos anos 90. Ou seja, histórias próprias sem nenhuma relação com outro grupo ou personagem conhecido.

Por que Asa Noturna não possui suas próprias histórias como detetive? Ou seus enredos de ação? Apostando em um personagem com diversas características bem conhecidas, a DC Comics ganharia muito mais do que insistindo em fazer de Dick um Robin tentando se vestir de Batman.

Dick precisa ir para outra cidade ou trabalhar para o Xeque-Mate. Precisa lidar com personagens criados para interagir sob sua esfera e com os quais ele não precise dividir atenções ou ser sempre um coadjuvante. Enfim, precisa ser encarado como um personagem que resolveu andar com suas próprias pernas. E não como um filho pródigo que volta sempre ao seu lar (ou, nunca consegue sair de sua tradição).

A traição de Asa precisa ser completa para seu próprio futuro. Ou então, ele sempre será um ex-Robin.

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