A Filha Perdida

Livro de Elena Ferrante é melhor que o filme?

Nas conversas com as minhas filhas, ouço palavras ou expressões omitidas. Às vezes, elas ficam com raiva e dizem mamãe, eu nunca falei isso, é você que está dizendo, você inventou isso. Mas eu não invento nada, só escuto, o não dito fala mais do que o dito.

++ Leia também nossa crítica sobre o filme com Olivia Colman

SPOILER FREE

Depois de ler a genial Série Napolitana da italiana Elena Ferrante, fiquei de olho nos demais livros da autora que ninguém sabe quem é. Sim, Elena Ferrante é um pseudônimo, e a autora, espertamente, raramente concede entrevistas e há anos se especula sua verdadeira identidade. Quem diria que isso ainda era possível nos dias de hoje?

A Filha Perdida foi publicado quase 6 anos antes do primeiro livro da Série Napolitana, e antes do sucesso da autora não era badalado. Peguei para ler simplesmente porque me apaixonei pelo trabalho da Elena Ferrante depois de ler A amiga genial.

A primeira coisa que reparei é que apesar de não ser o mesmo livro, parece ser o mesmo livro. A sensação de ler A Filha Perdida foi muito estranha, no sentido que parecia que eu estava relendo a Série Napolitana, só que de uma forma meio chata e sem graça. Claro que a história não é a mesma, as personagens são todas diferentes, mas ao mesmo tempo parecia ser a mesma coisa.

Não sei se é uma questão de estilo, algo como Saramago, em que você bate o olho e sabe que o texto é dele. Pode ser que seja, mas me pareceu algo mais na linha a autora só escreve na perspectiva de mulheres que gostam de remoer seus próprios sentimentos ad infinitum. Só que ao invés de ser interessante e instigante como no caso da história de Elena e Lila, aqui só me pareceu um tanto chato e exagerado.

Não é um livro ruim, veja bem, ele só tem outro peso e andamento que a Série Napolitana. A Filha Perdida é bem mais soturno, taciturno e melancólico, com uma tendência a exagerar nos floreios e autoanálises da personagem narradora, uma mulher de quarenta e poucos, divorciada e cujas filhas já saíram de casa. A história é basicamente as férias que ela decide passar na praia.

Para mim faltou o brilho e o frescor da história de Elena e Lila. Foi como rever um filme só que fora de foco e com cores desbotadas. Talvez seja uma questão de amadurecimento da autora, afinal, ela lançou esse livro antes do seu grande e premiado sucesso. É muito triste escrever uma resenha dessas para Elena Ferrante, mas eu sou sincera.

Nota 7.

Arquivos

Leia Mais
Os Anéis do Poder: seria “O Estranho” um certo Gandalf?